Bolo de carne (Crônica)

Uma vez dois rapazes sorriam ao andar por um shopping que cortava as ruas ladrilhadas de um simplório bairro da zona sul quando algo prendeu as suas atenções. Primeiro o cheiro fez o seu jogo de sedução, logo as suas visões foram direcionadas ao famoso bolo de carne da tia Célia. O aroma da carne tostada fugia pelo vão da porta, e pelas brechas que existiam entre as telhas. Quando a janela era aberta, o cheiro evaporava por toda a vizinhança. Os vizinhos logo chegavam com seus pratos, garfos e facas, outras traziam xícaras e garrafas de café.

Uma roda de senhoras se formava, ficavam todas ali conversando, comendo e bebendo até o cair da noite, quando as estrelas mais tímidas começavam a aparecer no céu e a lua voltava com todo o seu “glamour”. Fofocavam e se deleitavam nos mais distintos assuntos desse mundo, hora falavam sobre as vizinhas do outro quarteirão, então dos homens que saiam engravatados para trabalhar no centro, davam e prestavam contas de gravidez, casamento ou divórcio. A roda só iria se desfazer mais tarde com o romper da madrugada, no exato momento em que os sons passam a dar medo, hora que o mais ignóbil sobrenatural invade a cabeça dos tolos.

A sutilidade das coisas, torna tudo mais interessante, elas ocorrem de uma forma mecânica sem combinados ou tratados, apenas acontecem. Algo que se repete dia após dia, uma rotina que se transforma numa espécie de tradição difícil de ser quebrada. Isso chamou atenção dos rapazes, tanto que eles saíram do shopping e foram até as mulheres, ritmando uma socialização num tom pujante.

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