Terra que não chovia (Poema)

O calor atordoava todos que lá habitavam,

os seres humanos daquele local sofrearam uma espécie de mutação genética que lhes permitiam tomar café quente no alto das três horas da tarde.

Na terra que não chovia o sol era o primeiro a chegar e o último a sair, tornou-se amigo dos que procuram luz e inimigo dos que trabalhavam em baixo de seus raios.

Gota de suor vira patrimônio imaterial na terra que não chovia.

Terra que não chovia? Se é. Às vezes lá gotejava, isso é.

Os matutos olhavam acanhados para o sereno que se mostrava tímido, vez ou outra.

Não se precisa de chuva numa terra que tem caju, com ele se faz o licor dos deuses. Bendita é a fermentação, todos amam à terra.

À terra que não chovia.

Torquato Neto andou por essas ruas, e seu Caetano compôs em sua homenagem.

Lindo é, à terra que não chovia. Isso que seja, pois, é. Mero detalhe, da terra que não chovia.

Aquele salgado que só os moradores de lá sabem fazer,

aquilo que alimenta quase a noitinha quando se anda por entre os outros,

o fantástico que só tem em um lugar do mundo,

na minha terra,

na terra que não chovia.

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